terça-feira, 10 de julho de 2012

O ABRAÇO QUE ME AQUECE , CONGELA-ME , ARREMECA-ME PARA O PASSADO, DEFRONTA-ME COM BRAÇOS EXTENDIDOS EXCLAMANDO POR AFAGO. A MUSICA ACOMPANHA A TRISTEZA. O BEIJO NO ROSTO ME TRAZ DE VOLTA PRA CÁ E A MUSICA PARA DE TOCAR, OS SEGREDOS ME TATUARAM A PELE E SEMPRE ME LEMBRARÃO QUEM SOU E NINGUEM HA DE MUDAR O QUE JA NAO SE VIVE MAIS.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

PASSARINHO

No alto da serra onde o suor molha a terra vermelha, põe-se um menino a brincar, menino comprido de olhos arregalados , arteiro, vive com a tampa dos dedos e joelhos abertas, brinca tanto que precisa descansar debaixo de uma mangueira para voltar a brincar. De longe se ouve um assobio, sabe que é o pai a te chamar para cumprir com as obrigações da tarde e depois as galinhas alimentar. Ele parece ser feliz, mas isso ele nem sabe que é, vai levando a vida assim sem se preocupar. A noite a mãe do menino prepara o jantar e ele na beira do fogão começa a lhe beijar , a mãe o afasta com o pano de prato e finge dos molhados beijos não gostar. A mãe ama o filho e na estrada árdua que percorre é ele que não a deixa parar. No silêncio da casa o menino sonha, sonha em poder voar, passa as tardes matutando o porquê das galinhas terem asas e dali não voar. A casa amanhece antes de o sol clarear, cheiro de café e bolo de fubá. O menino pega o saco de milho e corre para o galinheiro, cada galinha tem um nome, nome que ele mesmo escolheu, e a galinha preferida , é a mais gorda, gorda de receber farta porção de milho pelas mãos sujas de terra do menino, e assim enche o papo da Vermelha. O pai de poucas palavras, de olhar triste, braços fortes e mãos calejadas, criou-se sozinho , solto no mundo, sem família e sem lar. O menino mostra com entusiasmo um estilingue, que o pai censura com os olhos e em êxtase o menino grita: É pra matar passarinho! Segunda é dia do coronel aparecer, ele dorme na fazenda e fiscaliza se está tudo do seu agrado. O dia amanhece ele calça suas botas envernizadas e anda pela fazenda, conta as cabeças de gado, os litros de leite, os pés de milho e as galinhas, e não é que na conta do coronel, falta uma. O Coronel com a arrogância que lhe veste, acusa o filho do caseiro de ter sumido com a galinha. O pai enche o olho de sangue ao ouvir tal acusação e com uma espingarda na mão, procura pelo filho que brinca com o estilingue na mão. O pai pega o menino pela camisa e dá uma surra acusando-lhe do sumiço da galinha, o menino diz que não, e as lágrimas fazem virar barro a poeira do seu rosto. O pai convencido da culpa do filho e com o coração gelado de ódio, obriga que ele faça uma cova onde será enterrado. O menino assustado não pensa em desobedecer o pai. E com um tiro no peito, pai mata o filho e morre por inteiro. A mulher ao encontro do marido e sem dizer nenhuma palavra, entende o que ele havia feito, cai de joelhos e nunca mais se levanta. Dias passam e a galinha Vermelha é encontrada debaixo de um balaio velho, que o menino se escondia quando sentia medo. O pai nunca mais disse uma palavra, nunca mais sorriu, nunca mais chorou, nunca mais viveu. A mãe vive a chorar de joelhos na cruz que fez com as próprias mãos para o filho teu. E quem sabe só agora o menino possa voar.

terça-feira, 8 de maio de 2012

As luzes que vejo pela janela me transportam para outra vidas, almas que abrigam as dores da escuridao. A luz que nasce dos olhos nao clareia o corpo mergulhado em solidao. Luzes que abrigam vida. A dor que nasce nos olhos jaz na escuridao. Fechem os olhos meus filhos e confie em minhas maos

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Pater


Pai e filho arrastam pelos caminhos turvos a mágoa de não sabê-los, o perdão lacrado nas bocas em silêncio, almas perdidas, corpos também. Entre dedos que condenam e gestos que não se firmam, o desencontro perdura em novas feridas, e no ápice da noite em meio a busca errônea do nirvana , pai e filho se encontram, e no enlace dos olhares, no desabrochar de uma orquídea, o pai abriga o filho e o filho nasce no pai.

Cortejo


A cidade foi acordada com o ressoar dos sinos da matriz, ouvidos atentos na tentativa de burlar os sons urbanos, o prelúdio de um anúncio, desperta a cidade pacata e a transforma em uma só, a voz entoada faz provir o âmago das sensações, a personificação da morte atemoriza e invade as ruas cobertas de blocos, e a certeza de um breve e novo soar ecoam pelo cenário bucólico. A cidade em luto, sangra com o ventre dilacerado, a cidade chora por mais um filho arrancado e as almas em instantes acomodam-se em corpos extenuados, a cidade se faz menor e a sombra da noite conforta os corações desolados.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Servidão


O olhar condolente não vislumbra a paisagem prometida em meio a enganos e tropeços, o corpo fragmentado nao transige com a imagem especular, a inação alimenta a fadiga do subexistir. A linha tênue inquieta atravessa a cadência da insinuante meretriz e o corpo padece, desmantela-se e volta a servir.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Afrodite


A carne pulsa no tormento do corpo, transforma-se em tempestade e molha o desejo atordoado, a carne impetuosa o leva para o caminho torto, por detrás da pele o afeto insípido provoca a catarse mórfica. O vinho de Baco nas mãos de Afrodite arrosta a esfinge desolada. O desejo melindroso escorre pelo suor do casal pleiteado e encharca de mel a nudez escancarada.