domingo, 24 de abril de 2011

Voraz


Sinto fome sentada à mesa, o banquete de Platao nao me alimenta mais, vontade de carne crua e da verdade que o vinho provoca, quero me sentar à mesa nua e me fartar, entregar-me aos prazeres sem sabê-los.Quero me deitar com Eros e acordar sozinha a procurar nos rastros, o despertar de um sonho.

terça-feira, 1 de março de 2011

Rosário


Se não tivesse medo de não mais conseguir fitar a rosa que nasceu pelo bico de um passarinho no jardim da casa, não a amaria, nem ao menos saberia que está ali, é pensar em não vê-la, que a sua imagem sobressalta no meu pensamento, é pensar em não tê-la é que a tenho dentro de mim, o amor que nasceu do vazio, no vazio não morrerá. A cama desarrumada, o guarda-roupa vazio, a porta entre-aberta e a rosa arrancada.Meus olhos derramam o pranto em oração e um rosario cai sobre mim.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Querências

Quero aprender a ser pingos de chuva, que caiem para molhar o solo sedento. O solo que abriga e se despede, o solo da espera suave. Quero ser semente de sonhos, flores de alegria, quero me ver despida como árvore no outono. Quero me encher de sol e não ficar só. Quero morar em uma nuvem e me jogar dela. Quero atravessar os rios para sentir os pés molhados Quero ser bicho que fere, bicho ferido. Ser ferida que não cicatriza. Quero me sentir filha e me fazer mãe a cada manhã. Quero a delicadeza da presença de vida que a morte anuncia. E no querer de cada dia, descubra, a sombra do não querer.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Ave Dor

A mala está pronta mas a passagem não foi comprada, a pista está vazia, e os aviões sobrevoam a minha dor. A mala pesa por estar vazia, não sei o que levo daqui, mas eu me levo, eu me arrasto por este corredor. A dor que não cessa aumenta o desejo de partida e, quando os aviões já estiverem pousado talvez desembarque o desejo de ser feliz na casa antiga.