segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Pater


Pai e filho arrastam pelos caminhos turvos a mágoa de não sabê-los, o perdão lacrado nas bocas em silêncio, almas perdidas, corpos também. Entre dedos que condenam e gestos que não se firmam, o desencontro perdura em novas feridas, e no ápice da noite em meio a busca errônea do nirvana , pai e filho se encontram, e no enlace dos olhares, no desabrochar de uma orquídea, o pai abriga o filho e o filho nasce no pai.

Cortejo


A cidade foi acordada com o ressoar dos sinos da matriz, ouvidos atentos na tentativa de burlar os sons urbanos, o prelúdio de um anúncio, desperta a cidade pacata e a transforma em uma só, a voz entoada faz provir o âmago das sensações, a personificação da morte atemoriza e invade as ruas cobertas de blocos, e a certeza de um breve e novo soar ecoam pelo cenário bucólico. A cidade em luto, sangra com o ventre dilacerado, a cidade chora por mais um filho arrancado e as almas em instantes acomodam-se em corpos extenuados, a cidade se faz menor e a sombra da noite conforta os corações desolados.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Servidão


O olhar condolente não vislumbra a paisagem prometida em meio a enganos e tropeços, o corpo fragmentado nao transige com a imagem especular, a inação alimenta a fadiga do subexistir. A linha tênue inquieta atravessa a cadência da insinuante meretriz e o corpo padece, desmantela-se e volta a servir.