segunda-feira, 12 de julho de 2010

" Com Pulsão"



Domingo fui ao shopping e mais uma vez não me contive, acabei entrando na livraria. Descobri há alguns anos que tenho compulsão por livros, quero todos, tenho fome de saber, quero alimentar a alma. Os livros me fazem companhia, consolam-me, ás vezes durmo com algum na mão e este torna-se meu amante e divide comigo a cama durante as noites frias. Às vezes, sinto saudade, pego um livro na mão e ela se acalma dentro do peito. Estes dias encontrei uma caixa de livro, a poeira me fez ter um ataque de espirros, em cada um deles era uma angústia colocada a pontapés para fora, os livros sabem do que preciso, compreendem-me, fazem-me bem. Mas voltando a livraria, se é que consegui tirar meus pensamentos de lá, estava em um estado de encantamento ( é assim que fico quando rodeada por livros) quando saltou aos meus olhos a imagem de um homem com elegante vestes e, um olhar misterioso. Ele olhava os livros com tanto amor, reconheci aquele olhar, um dia vira o mesmo olhar em um espelho do quarto, quando acabara de ler o meu primeiro romance. Não conseguia tirar os olhos daquele homem, pela primeira vez os livros ficaram em segundo plano. O homem pegou um livro na mão, e tateou a capa e eu me senti tocada por ele, sentia a sua mão no meu corpo, uma mão quente e pesada, nunca tinha sentido aquela sensação. O homem não me olhava, mas eu sentia teu olhar e tinha a impressão de que ele conseguia ler a minha alma, todas as linhas e até as que tentei apagar e, fiquei assustada tinha medo de ser colocada em uma caixa, logo que chegasse na página final, mas como adiar o fim? Quis correr, mas as pernas não me obedeceram. O homem foi se aproximando de mim e com uma voz doce e delicada, voz que soava tão familiar, acho que havia sonhado com ele, perguntou-me o meu nome, não consegui dizer estava paralisada, ele sorriu e me convidou para um café, eu disse sim com os olhos, pegou-me pelo braço e me conduziu a uma cafeteria muito charmosa. Ele não disse nada, apenas sustentava o olhar e, eu também permaneci em silêncio, desejava decifrá-lo, mas não me importava se fosse também devorada.Queria conhecer a sua história, as suas vírgulas, suas exclamações e interrogações, portanto temia o ponto final. Estava em um estado de júbilo de completude, que qualquer palavra estava arriscada a se apresentar imprópria, aquele momento era uma página em branco no meio do livro, onde podia se escrever a mais linda história de amor, e também a mais trágica, mas a possibilidade me atraia e como me atraia. Queria ser lida com as mãos, desejava que a claridade que emanava do meu coração lhe cegasse os olhos, que instante mágico e raro foi aquele, as pessoas ao redor foram transferidas para outros livros, o nosso pertencia apenas a nós, éramos o que queríamos ser, escrevendo um romance a quatro mãos. O fim do café fez com que eu desejasse naquela tarde beber todo o café do mundo, mas ele despediu-se de mim e foi embora sem me dizer nada, nem mesmo soube seu nome. Agora descobri que tenho compulsão por café, quero conhecer todos os aromas, todos os sabores e todas as cafeterias da cidade.

Nenhum comentário:

Postar um comentário