segunda-feira, 12 de julho de 2010

Sobrepeliz



Moro na cidade dela, o cheiro de coisa perdida que fica no ar, é o que nos faz encontrá-la.

É dela, a fantasia dos meninos da escola, que a procuram com olhos curiosos a cada dia.

É dela o casarão assombrado no meio da praça em silêncio.

É dela e só dela a solidão que faz companhia.

Moramos na cidade dela e nem nos damos conta que também somos ela, o cheiro que incomoda é o cheiro da carne, do humano, das feridas que se abrem no corpo demasiado mundano.

É ela quem vigia a cidade pela janela, é ela quem conhece os passos noturnos e as folhas que caíram das árvores no último outono.

É ela a rainha vestida de trapos no seu castelo em ruínas.

É dela as lembranças que enchem a casa de gritos , risos e lágrimas.

É dela os restos da vida que teve e é nosso o resto dela.

E no relógio de pulso já não está marcado o tempo dela, neste tempo que a fruta apodrece ela goza da eternidade.

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