segunda-feira, 12 de julho de 2010

LouCURA



Não sei porque permaneço sentada no colo de quem nunca soube me embalar, porque permaneço presa a um passado que me faz ter auto piedade, o colo negado o tempo apagado me parecem pior. Não acuso de não ter tido escolhas, as tive, escolhi não tê-las e fui levando a vida assim, com uma resignação que nem os santos tiveram, abaixando a cabeça e me contentando com os trilhos deixados pelas formigas. Descobriram minhas fragilidades, e mais frágil fiquei, sentia-me como uma boneca de porcelana na mão de uma criança enfurecida. Jogaram-me pedras, e com elas construí a prisão onde fechei minha alma, acusaram-me, culparam-me e eu enlouqueci. Louca, a alma fugiu, e as pedras da prisão levantada, comecei a jogá-las na lua. Agora era forte, não olhava as formigas, queria ser estrela, e era. Saia pelas ruas, ora bailarina, ora cortesã, ouvia a música que ninguém ouvia, e que linda melodia! Os pássaros cantavam para mim, as flores me saudavam, era amada pela natureza, com ela tive um filho, que morreu logo ao nascer.Se triste, logo arrumava um jeito de inventar a felicidade, a fiz com bordados vermelhos, com latejolas brilhantes, a minha felicidade reluzia e era só minha. Louca de amor, amava as pedras e os buracos do caminho, amava o jeito torto de andar do velho da esquina, amava a amargura da mulher que nunca se casou, amava o machucado do joelho do menino arteiro. Morava nas ruas, dormia nos passeios, era amiga dos bêbados e das putas. Rodopiava pelas ruas, só sentia meu coração, não ouvia ninguém, a voz não chegava aos meus ouvidos.Mas a loucura foi se esvaecendo do meu corpo, como um mel que adoça a boca, fui sentindo as gotas do óleo da loucura secarem e, logo fui voltando a realidade, como quem acorda de um sonho, mas ainda me finjo de louca, e me divirto com o que vejo, os loucos soltos pelas ruas, com gravatas no pescoço que impedem que a loucura, o discurso delirante saia pela boca, esperam que o óleo seque sem sentí-lo correndo pelas veias.

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