segunda-feira, 12 de julho de 2010

Divãneio

Preciso começar a minha análise pessoal, já não posso mais adiá-la, tenho sentido o gosto amargo da palavra presa na garganta. Não pretendo encontrar a verdade, mas as verdades que em mim moram, quero saber desta coisa que me movimenta e que não se revela, conheço suas pegadas, mas nunca vi seus pés.

Confesso, que já tentei me analisar parada a olhar para um espelho, e me senti vazia, nada vi, nada ouvi e nada disse.Vi um rosto também querendo respostas e, eu não as tinha, ao menos ainda não. Tenho medo, talvez por isso tenho adiado tanto, medo do que posso descobrir, onde vou colocar as minhas certezas, as que tem me segurado de pé, teimo não conseguir parar sozinha. Tenho sonhado com um divã, recuso –me a deitar, quero estar de pé quando descobrir as minhas verdades, engolir seco e fazer um poema das palavras ditas.

Crio coragem, procuro no classificado um analista, marco um horário: Segunda-feira, às 17:00 horas, Segunda é um bom dia para começar, todo mundo tenta ser feliz na Segunda, acordo com um embrulho no estômago, não consigo tomar meu café, tomo um banho, vou para frente do espelho embaçado pelo vapor quente, preciso me preparar para o encontro, ensaio algumas frases, tenho tudo pronto, vou dizer ao meu analista que é culpa do Complexo de Édipo, ouvi isso de uma moça no restaurante, quero que ele me ache interessante, não posso parecer burra, as horas não passam, já refiz meu discurso, e ainda não está bom, ele não vai gostar, preciso ser mais profunda. São 16 horas, não sei se devo chegar atrasada ou antes da hora marcada, se me antecipo ele vai achar que estou desesperada, mas se me atraso, pode tomar como uma afronta, melhor chegar na hora marcada. Chego ao endereço indicado, entro, mas antes vejo se não há nenhum conhecido na rua, o que eles iam pensar? Entro, o lugar está vazio, logo me aparece um jovem de roupas coloridas, assusto-me, onde está o velhinho fumando charuto? O jovem se apresenta como meu analista, convida-me para entrar, começo a repetir mentalmente o que preciso dizer, tenho medo de esquecer. Entro na sala e uma lágrima escorre, logo outras rolam pelo rosto, e um choro comovente me escapa, um choro contido, deito no divã como um feto desprotegido. Saio do consultório mais forte, mais mulher, aliviada e, prometo ao analista que da próxima vez trago tudo escrito em um papel, o analista sorri, aperta forte a minha mão e diz : Te espero na próxima sessão!

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