segunda-feira, 19 de julho de 2010

Melado

Se eu ao menos soubesse o que me faz querer parar de beber com o copo ainda cheio de vinho, sem sentir a embriaguez doce e a ressaca doída. Eu que já não sei em que página parei do livro que me dera tanto prazer, eu que apenas o fechei e o coloquei na cabeceira da cama, assim a vigiar meu sono, e a me proteger dos pesadelos.
A sensação de vazio enche o meu corpo, a minha alma já não tem lugar, vaga pelos pensamentos tortos e escuros. O corpo já não a espera, sabe que não pode mais abrigá-la, esta sou eu, um corpo vazio que sangra , uma alma perdida que chora. Chora por não saber coisa melhor.
Já não me sou uma boa companhia, porque não me deixo esquecer, os fracassos que me marcaram, os sonhos que me iludiram e os desejos pisoteados. Me perdi, perderam-me também, na encruzilhada onde permaneço sentada gozando do trabalho despachado.
Permaneço, sentada, atada, a esperar que um buraco se abra aos meus pés e que lá encontre um coelho de cartola que me conduza ao país das maravilhas e que eu volte a ser grande, já não suporto me sentir pequena e frágil. Enquanto isso tomo chá adoçado com o mel que jorra do coração, um coração que já foi de pedra.